Sou...

A minha foto
Zürich, Zürich, Switzerland
Irrequieta. Curiosa. Criativa. Apaixonada. Versátil. Nasci quando as estrelas se juntaram para me ditarem no destino a Arte. Deveria estar frio... mas eu não me lembro. Escrevo desde que aprendi a fazê-lo. Umas vezes para me divertir, outras por desafio a mim mesma, outras porque as mãos me suam, implorando que o faça. Talvez um dia dê ouvidos aos meus amigos e faça por escrever um livro e o publique. Os textos e fotografias deste blog são da minha autoria, salvo aqueles que estão assinalados em contrário.

Fingimento

"Ele não sabe... Não sabe que o odeio tanto quanto o amo, num silêncio tranquilo de quem aprende a aceitar o desenrolar lento dos minutos que param em janelas abertas viradas para sul. Ou então sabe... mas finge não querer saber!"


Ódio

Não gosto do teu cheiro... Cheiras a sebo, óleo queimado, sexo sujo, suor e côdeas!
Por isso, não vai haver uma próxima vez para voltares, de braços abertos, cheio de tesão para encostares o teu corpo ao meu, e me apertares e tentares arrancar-me um pouco de sabor dos lábios que não te querem beijar.
Não gosto do teu cheiro!!! Não gosto! Dá-me vómitos. Como me dá vómitos a forma como tentas levar-me prá cama quando pensas que a bebida me tocou. Nem gosto sequer da pressa com tentas pagar-me bebidas no bar, quando eu apenas quero descontrair, ver gente e esquecer de tudo o resto, durante uma noite.
Não quero nem gosto do teu dinheiro, que te serve para comprar prostitutas e que depois usas sem respeito, tratando-as como se fossem menos dignas por te servirem os caprichos e te aliviarem em orgasmos grotescos.

E se este não gostar é sinónimo de ódio, então odeio-te.
E este, é mais um dos meus pecados...

Caixote do Lixo /Exporgação d'um Mentiroso


Não gosto de mentira. Faz-me comichão até aos ossos... Mas pior que isso, porque a comichão ainda tem remédio, coçando-se, é confrontar o autor da dita e responder-me, com cara de pau, que quem mente são os outros.
Por vezes ouvia dizer que a mentira tem perna curta. Lembro-me que quando era mais nova, por vezes desistia de algumas coisas, porque não queria dar explicações sobre o que pretendia e também não queria arranjar uma qualquer desculpa que coubesse no contexto e justificasse os actos que pretendia realizar.

Por mais coerentes que algumas pessoas tentem ser, por mais que tentem enganar-se a elas próprias, chega um dia em que o pano cai e se deixam expor, denunciando-se a si próprias.

Estou completamente e mais uma vez, put@ da vida!!! Já me disseram que eu devia controlar a raiva, mas não quero! Não quero controlar nada do que está a sair cá pra fora. Quero sentir plenamente e depois deixá-la morrer, para não me assaltar de novo. Apetece-me gritar, ter um saco de boxe e golpeá-lo até se romper ou eu ter as mãos em ferida. Sou tão estúpida! Tão inocente e ingenuamente estúpida!...

Costumo deixar as defesas em aberto, em baixo, quando salto como uma leoa para defender aqueles de quem gosto e que acredito serem meus amigos. Não aprendo nunca!!! Os sentimentos são tão fugazes, breves e efémeros quando não se conseguem realizar os primeiros objectivos deduzidos num dia de calor e hormonas incontidas... Os sentimentos... Aaaaai
Sentir... apenas privilégio de alguns. Outros tentam, sem perceberem sequer do que se trata. É um abandono ao que vem, uma entrega que se faz num sorriso aberto que não tem medo nem espera nada. Venha o que vier, coração aberto. Sim, todos temos um...

Acho que renuncio ao resto de coragem que ainda vive em mim e desisto de acreditar. Desisto de tentar. Desisto! Simplesmente já não tenho vontade de lutar para te ter ainda na minha vida... Já não tenho vontade de te abrir a porta da minha casa, de te receber de braços abertos ou de te ter pela frente. Não quero ouvir-te, por isso nem pego no telefone para te dizer que o prazo de validade acabou e isto deu o que tinha a dar. Fartei-me das comparações disfarçadas, das bocas escondidas no tom de brincadeira, da conversa que me deixa nervosa e tensa a ponto de querer acabar com ela mal começa. Fartei-me das insinuações em modo de desafio, das bajulações ridículas e, sobretudo, fartei-me de tentar passar por cima de um perdão que não te consegui dar.

Sabes que mais? Vou à lixeira despejar o lixo. E deixo-te a ti, também, por lá.

Sinto-te

Hoje parecia que te tinhas transformado em mar em mim... Eras ondas que me faziam sorrir, fechar os olhos e inspirar fundo com o nariz voltado para sudoeste.
Deixaste-me inquieta com as palavras de ontem e eu... não sei porquê, fiquei a imaginar qual o som que elas teriam saídas da tua boca, qual a entoação, qual a nota com que começariam e acabariam as frases que não me deixaram ter um sono tranquilo esta noite.

Foi tão desconfortável sentir-te longe... parecíamos estranhos, quase prontos para um combate, onde o ataque está eminente, apenas o retarda um qualquer fio invisível feito de acreditares e sentires...

Sabes... tirei o ramo de magnólias da jarra. As flores estão a perder a firmeza, quase parecem feitas de papel amachucado... mas continuam a perfumar a casa inteira, nesta morte lenta...
Diz-me porque cheiram a jasmim, as magnólias...

Também tive saudades tuas... e gosto de Ti :)

Fogo

Como faísca em palha seca...


*Foto da Net

Assim são os teus beijos

Feeling kind of...just want to have fun and laugh



E hoje não me apetece levar-te a sério!
Não me apetece conversa fiada e de circunstância
Nem rir das anedotas onde não encontro graça

Não me apetece responder a perguntas
Fazer silêncio para não te acordar
E caminhar em pés de lã

Não me apetece cozinhar...
Há restos guardados do jantar de ontem!

Não podes vir e pensar que sou tua
E que me vou apaixonar...

Hoje... apetece-me rir! Dançar e rodopiar
Ficar a flutuar acima da tua cabeça
Para amanhã cair num reencontro que quero
Para amanhã voltar a cantar Não, Não, Não, Não...

A Mosca da Fruta


Porque por vezes, tudo o que é preciso, é acreditar!


Já temos em que reflectir...

whatever... !


A partir do momento em que todas as tuas palavras são sagradas,
deixa de ter importância o que dizes...
Oiço-te,
Whatever... Hoje não quero saber! 


M, Mario, Montanha

A última coisa que me lembro, antes de cair no sono, com a cabeça deitada no colo dele, é da voz que me embalava num inglês com pronúncia italiana. Falava-me de Canis Majoris, a maior estrela descoberta até hoje; de R136a1, a estrela com maior massa observada no Universo; Eta Carinae, a estrela de brilho instável; Pistol Star, uma hipergigante azul das mais luminosas da nossa Via Láctea; Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol... E lembro-me do toque dos dedos dele que faziam pequenas expirais na minha cabeça, me contornavam as linhas do rosto e me conduziram a um sono contra o qual eu tentava lutar e ao qual acabei por me render.

***

Abro os olhos devagar, a tentar adaptar-me à luz forte que entra pelos vidros enormes que formam uma das paredes do quarto. Uma preguiça de Sábado de manhã invade-me e eu escondo-me outra vez, quase me perdendo naquela cama enorme, feita com lençois de algodão brancos, bordados, um edredão leve e quente de penas e uma colcha sóbria, em tom pastel. Lá fora, o dia sorri-me com um sol convidativo, mas as montanhas pintadas de branco, ao fundo, lembram-me que no final de dia anterior, nem o chá verde com manga me aqueceu o corpo e eu continuava a tremer, até ao momento em que me puxou para ele e me abraçou dizendo-me quase em segredo ”i think we had enough for today, let’s go inside and light the fireplace”.

Sentada no tapete persa e rodeada de almofadas de cores garridas e formas invulgares, reparo como ajeita os pequenos pedaços de madeira de azinho à volta de duas pinhas secas e cheias de resina. O cheiro da lenha que começa a arder transporta-me à minha infância e aos Natais frios na Serra, onde as noites eram longas e se passavam na cozinha,em família, com o meu avô a preparar a carne, a avó a cantar e a contar histórias de antigamente , a massa das filhós a crescer na masseira,depois de benzida, bem aconchegada com um pano de linho e um cobertor, à beira da lareira . Depois a mãe estendia a massa sobre o óleo quente, eu virava a iguaria feita com abóbora, quando corada, e a seguir o irmão e a irmã passavam-nas por uma mistura de canela e açúcar. Por volta das 9 da noite a casa começava a encher com primos e tios, que também traziam outros doces de Natal e a casa perfumava-se numa mistura de cheiros onde se descobria também gengibre, louro, alecrim, maçã, musgo e gente. Sorrio, distante, e quando o fogo cresce, ele junta carvalho e castanheiro.

Depois vai buscar os álbuns que tinha prometido mostrar-me e trás também a Canon de quem eu tenho fugido sempre que a vejo com a objectiva na minha direcção. Fala-me das viagens e das histórias de cada uma das fotografias.

Rajasthan, no nordeste da Índia, descrevendo a riqueza dos significados das jóias, do vestuário, das cores e do calçado e de como estes estão estreitamente relacionados com a identidade das castas. Acrescenta pormenores fascinastes sobre as tradições e cultura e sem sair do lugar viajo conduzida pela mão dele.

Fala-me do Royal Botanic Gardens, mesmo junto à Ópera, onde das árvores pendem morcegos gigantes (Red Flying Fox) durante o dia e como ao cair da noite eles enchem o céu de Sidney, tornando-o mais escuro, mas encantador.

Ras al Khaimah e os meios de transporte, as estradas, as praias e a dificuldade na deslocação e comunicação.

E fala da saudade que sente da Nigéria, “apesar de não haver nada lá”

Um tic tac ritmado lembra que o tempo segue o seu curso e a noite se adianta no seu correr. A luz vermelho alaranjada que nos ilumina e aquece tem um efeito tranquilizador em mim e quando ele pega na câmara, sinto-me confiante para sorrir e me soltar em brincadeiras que resultam em fotos divertidas. Depois vamos preparar um chá, um ritual normalmente solitário a que nos habituámos há muito. Rooibos e baunilha... Regressamos à lareira e cansada, deito a cabeça no seu colo. Lá fora o céu estava limpo e conseguíamos ver o brilho distante das estrelas.

***

Ironicamente, só nos dias em que o despertador me acorda, volto a adormecer depois de abrir os olhos pela primeira vez. Poisado na mesa de cabeceira um bilhete em papel artesanal japonês:
“Ligaram da empresa...
Desculpa deixar-te sozinha a tomar o pequeno almoço. Tentarei estar de volta ao meio dia.
Baci,
Mario”

Quando me convidou para passar o fim de semana com ele, com o desafio de tirarmos as nossas máquinas fotográficas do abandono a que têm estado sujeitas, eu não imaginava que precisaríamos de algumas horas de viagem para chegar a um paraíso branco e calmo, longe do barulho da cidade e da pressa vertiginosa.

Levanto-me e reparo que a segunda bateria da minha Sony está carregada. Só tenho que salvar as fotografias dos cartões para uma usb drive e estamos de novo preparadas para mais uma caminhada. Faço um duche rápido e quente e desço para umas torradas quentes com manteiga e mel, café e duas laranjas deliciosamente ácidas. No terraço, uma espreguiçadeira convida-me e eu, fazendo-me acompanhar por uma das Focus dele, entrego-me ao prazer de ler o que ele lê, no seu refúgio de Montanha.

Insónia


Deitado a menos de 20 cm, o corpo dele. O espírito, esse abandonou-o, quando ao fechar os olhos se deixou ir num sono que chegou lento mas desejado.


Alguns minutos antes, eu ainda lhe dava as costas, fingindo ter-me deixado vencer pelo cansaço de um dia longo e quente, dizendo-lhe para não me tocar. Depois de lhe sentir a respiração regularizada e tranquila, embalada e ritmada, voltei-me para o olhar à luz do luar que entra pela janela que raramente tem a persiana descida. Olho para ele, fecho os olhos, faço força, volto a abri-los. Repito. Mas não acontece nada. Quando os abro, ainda não me apaixonei... ainda não o desejo, ainda não consigo sequer sentir compaixão, ternura ou pena por saber que nunca vou sentir o mesmo que ele diz sentir por quem gostava que eu fosse.

Ele dorme e a minha insónia pede-me que dê de beber à sede que me seca a garganta. Deixo a água correr livre da torneira do lava-loiça até se sumir pelo ralo e quando vem fresca encho o copo e bebo. Encostada na porta do frigorífico, fixo o branco da parede, tentando pensar. Não importa o pensamento que venha. Queria apenas um pensamento que fosse, sair desta apatia que me faz sentir robótica e telecomandada ao sabor de ordens e tarefas a desempenhar. Mais uma vez nada acontece e desisto, baixando os olhos. No telemóvel uma luz pisca, anuncia uma mensagem ou chamada perdida. É fim de semana, não quero saber. Por mim pode esgotar-se de bateria que não lhe pego até segunda. Antes de apagar a luz, pego no maço de L&M light e depois vou para a varanda. Aqui os sons e cheiros são diferentes dos da cidade. Cheira-se a terra seca, as vacas que pastam durante o dia a mais ou menos 2 km dali, cheira a erva cortada e calor que se despende dos prados que estão sempre verdes. E ouvem-se grilos, cigarras, mochos e guinchos de morcegos que caçam insectos. E de longe a longe, avistam-se pirilampos. A juntar a isto, o fumo do meu cigarro que sobe e se misturam no ar e o arder lento do tabaco que produz sons quase inaudíveis no lento definhar que o consome.

A lua está alta e o céu claro. E eu pergunto-me se tu olhasses as estrelas numa noite escura, conseguirias indicar o nome de meia dúzia de estrelas e duas ou três constelações. Bastar-me-ia apenas que soubesses reconhecer a Ursa Menor, Spica, Marte, Andrómeda e Orion...

Dou mais uma passa no cigarro, inspiro lentamente... e suspiro. Talvez isto seja saudade! Saudade de um tempo que não existe... ou saudade das fadas pequeninas que transportam as estrelas que caiem e nos dão desejos. E esta noite, se houvesse uma estrela a cair do céu... eu pediria uma chuva divina e um diabo com asas que me abraçasse até a noite passar.

Trieste



-“Grazie Paolo!” E com um braço no ar acenas “arrivederci”.

Os miúdos apercebem-se da chegada do táxi e correm para a porta saltando-te para os braços e pernas mal entras em casa. Por entre os braços pequeninos que te envolvem o peito, as costas e a cabeça, e os beijos, dás-me um sorriso. Eu retribuo e aceno positivamente e nesse momento és arrastado para o quarto deles para te sentares na poltrona e contares a história de mais uma viagem. Os olhos grandes fixam-se no teu rosto, e tu começas a falar das cores com que o Outono pintou os parques de Antwerp e dos reflexos da cidade no cais...

“Estavam cansados, passámos o dia a brincar na areia e na água”, digo-te, quando passados 10 minutos adormecem os dois no teu colo. Ajudo-te a deitá-los e depois ficamos abraçados, a matar saudade do toque e do calor... a tentar num momento recuperar o tempo e a distância que nos separou nos últimos dias.

Estamos no final de Setembro e as noites arrefecem. Mas vamos sentar-nos nas escadas que dão para a praia. O mar está calmo e embala-nos num conforto que se compõe com um chá de flores de hibisco quente. Trocamos as últimas novidades de uma forma leve e rápida. Temos pressa para nós. E depois acontece o beijo que principia num abraço e não se quer soltar. Sinto as tuas mãos no meu corpo e as minhas procuram-te. É um toque leve, mas que vibra e me percorre mesmo nos pedaços de pele onde não tocas. Pego-te na mão e coloco-a sobre o meu ventre e olho para ti. Sorris...

-“Quando soubeste?”


-“Hoje...”


E voltas a abraçar-me, aquecendo-me as costas que arrefeceram.

Entramos e conduzes-me até ao quarto. Esta noite é para saciar o desejo e o que arde em nós...


Improvavelmente Minh'Alma

Há dias em que é fresca
como a água em que se recusa a mergulhar os pés
no cimo da montanha...

Outros em que explode de raiva
e se desfaz em cristais vermelhos
que lhe salpicam o rosto e as mãos

Há alturas em que nem sabe se é...
ou se o é...

Procura-se numa busca inglória
que acaba por conduzir o corpo ao cansaço
despindo-o de sonhos quando ela fecha os olhos.

Todas as estrelas vivem dentro dela
e em algumas noites queimam-lhe o peito.
E qual fogo, rebenta, ilumina,
e consumindo-se,
desvanece e apaga-se.

Repousa-se em cinza e poeira compacta,
facilmente volátil e inflamável,
que se ergue no ar à mínima aragem.

Feita de nadas...
de sonhos... de vontades
e coisas tão palpáveis como o nevoeiro que a envolve...

Perdida... e de recantos vincados,
qual pele de velha com rugas fundas
escavadas pelo trabalhar do sol e do tempo...

Improvavelmente minha...
esta alma que atormenta quando o sorriso se quer soltar feliz...

---

Não me apetece o trompete nem as teclas do piano
Não me apetece a noite e o barulho dos carros
Não me apetece fechar os olhos e não sentir o teu cheiro...
E logo a seguir... odeio isto que sinto, por te querer...
Odeio sentir a falta dos teus braços que não me sabiam abraçar
Odeio sentir a falta dos teus lábios e da tua língua que não me sabiam beijar
Odeio sentir a falta das noites em que me pedias para vir e dormias na minha cama

Ainda te tenho debaixo da pele e preciso arrancar-te de cá!
Preciso arrancar-te de dentro de mim
Quero-te fora, longe, distante!!!

Não me dês o teu sorriso...
Por favor... não me dês o teu sorriso
Nem sejas meigo, nem te aproximes, nem digas que me queres...
Fica aí no alto do teu trono, intocável, carrancudo, azedo...
Fica aí e dá-me força para continuar o caminho de regresso a mim, antes de ti...


A Porta

Algures, na costa dourada, exposta ao sol e com vistas para o lago, uma casa ergue-se no planalto, distinta, elegante, ostentando poder mas não luxo exacerbado roçando o mau gosto. A decoração é simples, dando-se destaque e prioridade ao espaço aberto, livre. No salão da entrada principal um enorme candelabro de cristal paira sobre uma estrela de 8 pontas desenhada a madeira de carvalho no chão. Na sala de fumo, uma ou outra peça de prata, e nas paredes que rodeiam as escadas que sobem para o primeiro andar, molduras com retratos de família e pinturas feitas pela mão da dona da casa. Aqui, onde não falta uma garrafeira, piscina, sauna, jacuzzi, ginásio e todas as máquinas para manter o corpo modelado à vontade do que manda a sociedade e a saúde, há uma porta que está sempre fechada.

Amigos, conhecidos e outros que vêm aqui para um qualquer negócio, questionam-se sobre o que haverá atrás da porta trancada. Alguns tentam em vão descortinar algum fio de luz através da fechadura. Até o pessoal da limpeza que de vez em quando lá passa, se pergunta e especula sobre a porta fechada.

Há palpites, apostas, sugestões para resolver o mistério.

*Foto da Net


E um dia a porta abre-se...

No espaço sem janelas encontra-se o coração daquela casa. Tudo o que faz com que ela funcione. Desde o quadro eléctrico, até ao alarme. A caldeira, o controle dos tubos de aspiração, bombas da piscina entre outras pequenas máquinas e instrumentos.

É... as casas também têm um coração, que devemos proteger. E o facto da porta para este coração estar cerrada, não quer dizer que atrás dela exista algo misterioso para esconder dos amigos e das visitas. A porta está cerrada para podermos continuar a usufruir da água quente na banheira, de um quarto escuro ao meio dia, quando os estores baixam para permitir uma sesta, ou de música pela casa inteira, sem grandes alterações no volume à medida que passamos pelos diferentes espaços.

Espero ter-vos dado algo para pensar...

Doces de Amêndoa e Manjericos



Ainda no crepúsculo de um dia que vai começar, debaixo do edredão de penas, procuro-te com as mãos. Não o teu corpo, o teu sexo... Procuro o teu palpitar, as batidas do teu coração, a tua vida cheia de momentos por viver. Procuro o teu acordar lento e meigo, o abraço que me entregas, com um sorriso.

É hora, vamos - digo-te. E dou-te a mão, para te arrastar para fora da cama. Sais de gatas, como um bebé, ou como um tigre ensonado que desperta depois de uma refeição farta. Bocejas, espreguiças-te e puxas-me para ti para me beijares os olhos e dizeres bom dia.

Vou ligar a máquina de café enquanto tu tiras do armário uma manta quente. Vamos lá para fora, para a varanda virada para este, para ver o sol nascer. O cheiro do café forte desperta-nos os sentidos, e o quente do líquido amargo e acidulado desperta os corpos. Está fresco. Os amanheceres de Verão são sempre frescos, dizes-me. E encostas o teu peito nu nas minhas costas, depois enrolas-nos na manta azul mar e esperamos.

O céu muda de cor, o sol espalha-se pelo planalto, sobe os pequenos montes, toca o rio, e continua a cobrir tudo de luz, parecendo correr apressado pela Terra, enquanto se levanta.

Da sala vinha o som da mais recente selecção de músicas que tínhamos feito, num desses serões entre amigos, em que se joga trivial e se bebe Vinho do Porto em pequenos goles. Cada um procurava uma música. E todas elas seriam compiladas num CD, que ao fim da noite guardaríamos como recordação. A regra: só podia ser música portuguesa. E agora, Zeca Afonso, com a sua Canção de Embalar, logo pela manhã, dava uma magia diferente ao dia que começava.

Nero junta-se a nós, pedindo para sair. Hoje ele vai ter que esperar.

Levanto-me e segues-me até ao duche. Ficas a ver-me através do vidro que vai embaciando. Sorrio quando o teu desejo se torna visível. E depois sorrio por me deixares no meu momento, sem me provocares, sabendo que não consigo resistir. Dás-me a toalha branca, que cheira a fresco. Seco-me com ela, deixando-te depois sozinho.

No dia anterior tínhamos recebido uma encomenda com pequenos mimos e iguarias de presente. O habitual pequeno almoço com ovos, manga e pão fresco, hoje era substituído por pão torrado com manteiga, marmelada, queijo da Serra, uma colecção de miniaturas de doces confeccionados com amêndoa , cerejas do Fundão , sumo de maracujá e água. A mesa está posta, quando sais despenteado, descalço e com a barba por desfazer da casa de banho. Adoro ver-te assim, pela manhã, Cabeça de Andorinha. Passou pouco mais de hora e meia desde que acordámos e vamos no segundo café. Viciados!!!

Saímos para a rua, com as chaves do barco no bolso e o cesto do piquenique. Nero à nossa frente abana a cauda de contente. Pelo caminho reparamos como a chuva dos dias anteriores fez bem à terra e o verde ficou com mais brilho. Nero dá pequenas corridas nas quais se afasta, para voltar para a nossa beira. Depois atiras-lhe com o pau que ele te trouxe. Ele corre para o apanhar e regressa com ele na boca, para repetir a brincadeira. Deixa-mo-lo em casa de Natália, que nos cumprimenta com um abraço e se despede piscando o olho ao desejar-nos um dia feliz.

Chegamos ao cais e entramos. Subimos o rio e baixamos ferro num local onde ele corre lento e pouco profundo. É ali que às vezes escrevemos as nossas histórias a duas mãos, que nos libertamos para fotografias atrevidas, que fazemos amor, que deitas a cabeça na minha barriga e ficas a ler em voz alta um dos teus livros, enquanto dedilho e formo pequenos caracóis no teu cabelo.

O dia está quente. Quente e invulgarmente húmido para esta hora do dia. Mergulhamos para nos refrescarmos.


Decidimos testar a resistência ao desejo. É um jogo que nos dá prazer, a espera para nos sentirmos...

Um Quinta da Lixa muito fresco acompanha-nos a conversa sobre as aventuras e desventuras nos projectos que tomaram pernas e seguem em frente, sobre amigos que ligaram com um convite para uma festa, sobre a próxima viagem a Nova York, sobre as obras que precisam ser feitas em casa, sobre o teu sonho de ser um escritor reconhecido, sobre o meu sonho de abrir uma biblioteca onde anciãos contam histórias de lobisomens e bruxas. Os cigarros acumulam-se em beatas no cinzeiro.

A fome assoma e deliciamos-nos com comida prática, simples mas deliciosa. Pão de cacete com fiambre, queijo, paio, ovo, maionese, tomate e alface, pão de cereais barrado com queijo fresco e recheado com tomate e ainda tostas pequeninas que cobrimos umas vezes com creme de abacate onde o paladar descobre cebola, salsa, vinagre, pimenta e ovos, outras com creme de atum, com notas de mostarda, pickles e salsichas.

A tarde desenrola-se vagarosa e tu lês “As pontes de Madison County”, de Robert James Waller para mim. ( download do livro aqui )

“Já cheira bem," disse Robert apontando para o fogão. "É um cheiro tranquilo." Olhou para ela. "Tranquilo? Haverá algo que tenha um cheiro tranquilo?" Ela estava pensando na frase, interrogando-se a si mesma. Ele tinha razão. Depois das costeletas de porco e,dos assados que cozinhava para a sua família, aquilo era um cozinhado tranquilo. Não havia violência em nenhum ponto da cadeia alimentar, exceto, talvez, no fato de os vegetais serem arrancados. O guisado fervilhava lentamente e cheirava a tranquilidade. A atmosfera na cozinha era tranquila. “

(...)

“Sem darem por isso, tinham avançado lentamente pela pradaria e andado um bom pedaço; depois voltaram pelo mesmo caminho de volta para casa. A escuridão abateu-se sobre eles enquanto atravessavam a cerca, que desta vez ele segurou para que ela passasse. Francesca lembrou-se do conhaque. "Tenho ali conhaque. Ou prefere café?" "Há alguma possibilidade de serem ambas as coisas?" As palavras dele provinham da escuridão. Ela sabia que ele estava sorrindo. Quando chegaram ao círculo de luz que o candeeiro do pátio projetava na grama e no cascalho, ela respondeu: "Claro", percebendo na sua própria voz um tom que a perturbou. O som das gargalhadas espontâneas nos cafés de Nápoles. Não foi fácil encontrar duas xícaras que não estivessem lascadas. Embora ela soubesse que xícaras lascadas faziam parte da vida de Robert, desta vez queria xícaras perfeitas. Haviam dois cálices de conhaque, virados para baixo, na parte de trás do armário; nunca tinham sido usados, como o próprio conhaque. Francesca teve de se pôr na ponta dos pés para lhes chegar e percebeu que tinha as sandálias molhadas e os jeans muito apertados atrás. Ele estava sentado na mesma cadeira de antes, a observá-la.”

Agora desejo-te e sinto que não consigo conter-me muito mais. Massajo-te as costas, o pescoço, a nuca, os braços, o peito... e depois busco o teu beijo. Uma chuva torrencial desaba sobre nós quando começamos a fazer amor. Rimos, divertidos, com o prazer aumentado pela água fria que nos molha o corpo e nos arrepia a pele. A trovoada lá longe não chegou aqui, mas trouxe a bênção a uma região alargada. Ficamos abraçados e acabamos por adormecer, já abrigados da chuva e secos.


A noite aproxima-se quando me acordas , desenhando letras no meu peito e braços.


Regressamos a casa para trocar de roupa e irmos até à cidade. Chega-nos de lá o cheiro da foz, a sardinha assada, alho, manjericos e festa. Vamos parando em tasquinhas improvisadas, comemos, bebemos, cumprimentamos amigos, conhecidos e muitos outros que se cruzam connosco.

Lançamos os nossos balões no ar, dançamos, cantamos. O fogo de artifício explode e enche de luz e cor o céu nocturno, perfumado. É boa esta coisa que se sente no ar... e ficamos por cá. Não resistimos a trazer manjerico e algumas loiças de barro para o jardim.

Em casa, espera-nos Everyone says I Love You, com Woody Allen, Drew Barrymore e Natalie Portman, entre outros, no Dvd. Seguimos o cheiro do pão acabado de cozer, entramos na padaria e estamos outra vez entre amigos. Bom dia, trocamos, quando já todos pedem o conforto de um pão quente e uma cama feita de fresco.


O Professor e o Gato



Subidos os 6 lanços de 17 escadas em caracol, dobra-se para tirar os sapatos, arruma-os e abre a porta de casa. Elf, o gato, vem roçar-se-lhe nas pernas, para logo a seguir voltar para à poltrona onde preguiça o dia inteiro. "Estou a ficar velho"-pensa, enquanto põe água a aquecer para um chá. Apesar de o Verão estar à porta, o dia estava fresco e chovia desde a noite anterior. Com um fim de semana de 4 dias pela frente, Crist não sabia muito bem o que fazer. No liceu onde dava aulas de grego, alunos e professores falavam dos passeios que tinham programado e que nem a previsão de baixas temperaturas faziam alterar. Crist não tinha feito planos, excepto para essa noite. Toda a sua vida fora um cumprir rigoroso de agenda e horários, mas agora que tinha perdido a Mãe, algo tinha mudado.

Aquecido pelo chá, despido de quase toda a roupa, pega num dos seus charutos cubanos e num livro com mais de 100 anos, de folhas amarelas e com o cheiro que só os livros antigos conseguem ter. Folheia, mas volta a poisa-lo. Um charuto exige que todos os sentidos se concentrem nele. Só permite que a música continue, lenta, doce, estonteante, como o fumo que vai enchendo a sala rodeada de prateleiras cheias de livros e recordações de viagens a Cuba, Egipto, Grécia, Índia e Moçambique.

O telefone toca e vem acorda-lo das recordações do tempo em que era o menino prodígio e a sua irreverência era o skate que um dia lhe deixou na testa uma cicatriz em forma de 7. Era Anthony, a desmarcar o que tinham combinado: "Conheci uma loira de cabelos muito curtos. Fantástica!!! Depois conto como correu." E foi tudo, desligou.

Olha para a figura da Senhora de Fátima, no Altar que tinha dedicado à mãe e onde também havia um terço, uma Bíblia, uma vela e vários postais a dar as condolências e encolhe os ombros, com um sorriso desanimado. Um cancro levou-lhe a mãe, um italiano com manias de manequim levou-lhe a namorada, e agora... uma loira, leva-lhe o amigo, deixando-o com mesa reservada no restaurante e os bilhetes para o concerto Jazz.

La Bruja y el Diablo





Viola-me”, Ordeno-lhe

E ele, bruto, baixa-me as calças sem dificuldade, sem as desapertar sequer.  Roda-me e vira-me de costas para ele, apertando-me  contra ele. Ao mesmo tempo que os braços me contraem com força, as suas mãos são macias e não magoam quando ele faz a pressão certa nos meios seios. Depois, sem aviso, penetra-me fundo, de uma vez. E começa um vai e vem alucinante, no qual não me solta nem permite que me mexa.
Não é o vai e vem que me deixa louca, me faz gemer e  pedir-lhe mais. É a forma como me contrai, aperta, segura e espreme nos seus braços... É a forma como dança no fundo da minha vagina que se molha em desejo cada vez que ele me faz esperar para o sentir ou me deixa perto de um orgasmo e depois mo recusa.
Quase a desfalecer, eu, e sem força para continuar de pé digo-lhe para ir embora. Ele duro... Duro como nunca o tinha sentido antes. E passa-me a língua húmida no pescoço, para expirar a seguir e me fazer arrepiar.

Solta-me e deixa que eu me afaste, sem que tenha vontade de o fazer. “és louca, isto não se faz!” Fico a olhá-lo enquanto se compõe e se acalma. 

Bom fim de semana, Diabo”, digo-lhe com um sorriso de gozo, enquanto o vejo a caminhar para a porta.

Tu és

Hoje apesar de estar calor, ficámos por casa. O céu altera entre o azul limpo, nuvens brancas e outras negras. De vez em quando ouve-se um trovão e logo a seguir o céu desfaz-se num aguaceiro rápido e pesado que termina da mesma forma abrupta que começou, dois minutos mais tarde.
Tínhamos pensado sair, mas nem a Mariana teve vontade de tirar o pijama, nem eu vontade de me pentear.
Na varanda do prédio vizinho a mulher do casaco hoje tem uma camisola de manga curta num outro tom de rosa e no cabelo uma trança. Talvez um dia destes eu lhe acene e a convide para um chá...

Eu e a Mariana estivemos a brincar com as palavras :). As dela estão a negrito

Tu és um crocodilo
Tu és um peixinho
Tu és um mar
Tu és uma taça
Tu és muitas cores
Tu és um macaco
Tu és um céu
Tu és uma nuvem
Tu és o brilho das estrelas
Tu és duas flores
Tu és uma árvore
Tu és uma boca
Tu és sorrisos
Tu és um tapete
Tu és uma borboleta
Tu és um caleidoscópio
Tu és confetis
Tu és um papel
Tu és âmbar
Tu és escordiã (quando eu descobrir a tradução deixo-vos saber)
Tu és chocolate
Tu és uma televisão
Tu és o meu filme favorito
Tu és o meu cd
Tu és Azul
Tu és um comando
Tu és a minha oração
Tu és livros
Tu és a tinta das letras desses livros
Tu és lápis para pintar os livros
Tu és um miminho muito mimalho
Tu és um coelhinho que come cenoura
Tu és o meu colar de pérolas
Tu és um menino
Tu és uma brincalhona :)
Tu és um aquário
Tu és o meu nascer do sol
Tu és a Montanha
Tu és o trilho na Montanha
Tu és um avião
Tu és as minhas asas
Tu és um computador
Tu és as minhas bagas de goji
Tu és a minha Mãe

Rosa & Mariana

Papiloma

Não me apetece ser forte! Estou farta de ser forte... Porque me dizem que tenho que lutar, ir em frente? Porque me dizem para não chorar? Afinal porque não se calam estas vozes todas de quem pensa que sabe como me sinto?

Há algum tempo atrás o meu telefone tocou fora da hora normal. Eram 8 e um quarto da noite e no ecrã apareceu o nome da minha médica. O meu medo, o meu maior medo iria tomar forma real depois de eu atender... E eu atendi.

Não consegui reagir ou falar grande coisa. Bloqueei, paralisei, fiquei muda...

Não mudou o valor que eu dou à vida, nem comecei a temer a morte. Simplesmente passei a tomar atenção ao cheiro do meu corpo. Cheira a... decomposição, ainda vivo. Cheira a... algo que dói. Cheira a uma ferida que não cicatriza, a um vírus que me consome, a defesas em luta. Cheira... a vestígios do que foi o meu cheiro, em menina.

Se eu pudesse pôr as culpas em alguém... Se eu ao menos pudesse pôr as culpas em alguém, atirar a raiva contra um muro, desfazê-la com pancada, arrastá-la pelo chão, pisá-la, humilhá-la, fazê-la baixa... insignificante...

Se ao menos... eu tivesse um abraço onde me pudesse demorar... até ser forte de novo, até ter coragem e vontade para sorrir a partir de dentro, para me sentir pequena e chorar, até tudo passar... e ao acordar, ter sido apenas um sonho mau...

Guarda chuva

Há muitos anos atrás, quase há uma vida inteira, uma menina de 6 anos descia a rua principal da aldeia, de guarda chuva aberto, num dia quente, soalheiro e abafado de Verão. Passava pelos aldeões que riam dela e lhe perguntavam porque levava o chapéu de chuva aberto se não caía pinga de água. Ela respondia com um sorriso que a chuva não tardava e que como não conseguia abrir o chapéu sozinha, tinha pedido ajuda, porque sabia que não chegaria a casa antes que começasse a chover. Eles riam e abanavam a cabeça em jeito de gozo, depois encolhiam os ombros.
Uns metros mais abaixo, poucos minutos depois da conversa e dos risos trocistas, o céu começou a brilhar e a fazer barulho. Depois uma cortina de água espessa, apressada,escorrida,torrencial, violenta, veloz...

E a menina, debaixo do guarda chuva, sorria, completamente molhada e feliz.

Os velhos a partir desse dia deixaram de lhe atiçar os cães, de rir dela ou de a olhar no fundo dos seus olhos cor de Mar. Num lugar onde as lendas e histórias de lobisomens nascem, reconhece-se bem uma bruxa que comunica com a Natureza. E com as bruxas... ninguém quer nada!!

O Prometido é Devido

- Apetece-me fazer-te sexo oral, tira as calças :) :)

* O quê :)? Agora :) ?

- Sim, anda lá, ou não queres?
:)

*Quero, mas... :) (hesitante)

- Eu sei :)... mas o risco dá-me pica :)! A ti não?

*Dá... :)

- Então vá, do que estás à espera? :)

......................

- Uhmm, tou a ver que só com a conversa a coisa aqueceu :)...

Olha, faz um duche rápido que eu volto já!

* :) :) :)

Dois minutos mais tarde, de volta

* :) :)

- Oh... passou-me a vontade, vou embora! :) :)

* :) :)

Please please God, make me good

Hoje pedi-te um abraço porque as memórias que doem voltaram,tomaram conta de mim e não consigo manda-las embora... Tu não soubeste abraçar-me...não soubeste abraçar-me...

Não tenho dormido grande coisa e as dores de cabeça são quase constantes. A voz também perdeu a força, parece tê-la emprestado às visitas indesejadas, para que elas se tornem ainda mais presentes e vivas. Quando fecho os olhos, vejo-me outra vez menina de 7 anos. Uma menina quase igual a outras, que carrega um segredo e o terror nos ombros e que à noite reza a Deus para que saiba ser boa.

Quando se nasce a conhecer o cheiro podre do vinho, exalado em palavras incompreensíveis e muito acima do tom, não é fácil não ficar assustado. Quando o Sagrado é tocado, guarda-se silêncio para se continuar em vida e manter por perto quem se ama.

A oração repetia-se todas as noites, mas acho que o meu Anjo da Guarda falava uma língua diferente e nunca entregou o pedido lá no Céu por não perceber o que eu dizia. Uma noite, em que ele provavelmente estava a descansar, acordei com gritos. Lúcifer pegou-me pela mão, levou-me até à cozinha e mostrando-me a navalha grande, disse-me que era hora de agir. E eu obedeci! Caminhei até ao quarto, mas não fui capaz de acabar com o pesadelo.

Eu pensei que se fosse boa, as coisas más acabavam. Eu pensei que se guardasse silêncio ninguém mais iria começar o dia com marcas no corpo e na cara...

Um dia descobri que o que me dava asco, era a minha maior arma. Passei a usá-la sempre que o pronúncio se mostrava desfavorável. Deixei de misturar urina e lágrimas e brincava com os pés descalços, fazendo bolos de lama e jogando às escondidas e à apanhada.Pelo menos o resto da tarde era tranquila e à noite todos dormiam sossegados.

Passaram mais de 20 anos... e quando fecho os olhos... volto a ter 7...

N° Calças 26/30

Ainda o dia não vai a meio e eu sinto-me a desfalecer...
O dia começou com um despertar completamente despropositado, provocado por pesadelos parvos e sem sentido. O relógio ía nas 6 e 47, quando lhe peguei pra ver as horas, mas já estava acordada, a olhar o escuro, há algum tempo.
Normalmente, nos dias de semana, não desço a persiana do quarto, gosto de ter alguma luz quando o maldito despertador começa a tocar...
Ontem... e como é hábito nos fins de semana, desci a persiana. Queria dormir... mas não resultou em grande coisa, uma vez que acordei à hora do costume!

Pequeno almoço na barriguinha, coragem às costas e lá vou eu para o centro comercial. O objectivo era encontrar umas calças... O tema deixa-me algo nervosa, mesmo antes do momento de experimentar a roupa. Entrar  num centro comercial ao Sábado é o meu maior pesadelo no que diz respeito às compras. Além de não ter encontrado nada que me ficasse bem, ainda fui obrigada a constatar que os 3 kg que ganhei nos últimos 3 meses me estão a cair muito, muito mal nas pernas e barriga. Resumindo: Estou gorda e não consigo encontrar roupa que me fique bem = pesadelo!!!

Parece que afinal o peso dos 30 não é apenas um mito...


Para animar a coisa... pedi uma pizza. Mas acabei por não me sentir animada de todo...

Tou sem vontade e cheia de frio!!! Tenho saudades do sol a aquecer-me a pele... e já agora os pés!!!

Já disse ao Toni que lhe passava a roupa a ferro, com a condição de ele me oferecer um gato. É homem, não entende que uma mulher tem necessidades... Um gato, além de ser uma excelente companhia, ajuda a aquecer os pés em momentos como este...

Tou deprimida... E o pior... é que já não posso usar mais a desculpa do quarto minguante, nem da tensão pré-menstrual, porque já há uns 2 ou 3 dias que lhes deito as culpas e já ninguém acredita que isso possa durar tanto tempo.

O jantar

Ele há coisas tão boas que parecem irreais, outras,pelo contrário, tão más que nem dá para acreditar. Depois... há as hilariantes, como o jantar daquela noite.

Ao telefone:
Ela- "Ah e tal, Olá... Olha, não queres vir jantar aqui a casa?"
Ele- "Ah e tal... sim, claro, eu levo o vinho"

Ela vai para a cozinha e abre o frigorífico. "Bem... Há tomates grandes, natas, cogumelos, atum..., isto é capaz de chegar pra preparar algo simples mas bom"

Ementa:
Entrada:Tomates recheadas com atum
Prato principal: Esparguete com molho de cogumelos pleurotus

Ele chega, toca a campainha, ela abre, beijinho, sorrisos...
Abre-se a garrafa de vinho, conversa e tal e depois... mesa

Ela: "Queres uma ou duas?"
Ele: "Uma, por favor"

Vem o esparguete e ele aceita, educadamente.

Nos espaços entre as conversas e os risos eu quase juro que vi um qualquer brilho assassino nos olhos dele, mas as palavras proferidas foram: "não tenho muita fome..., mas está muito bom!"

Mais tarde percebi porque ele não arriscou com a sobremesa, quando me perguntou: "olha lá brujita, tu sabias e fizeste de propósito, não foi?" É que eu teria acertado em cheio na ementa, se ele fosse o inimigo...