Sou...

A minha foto
Zürich, Zürich, Switzerland
Irrequieta. Curiosa. Criativa. Apaixonada. Versátil. Nasci quando as estrelas se juntaram para me ditarem no destino a Arte. Deveria estar frio... mas eu não me lembro. Escrevo desde que aprendi a fazê-lo. Umas vezes para me divertir, outras por desafio a mim mesma, outras porque as mãos me suam, implorando que o faça. Talvez um dia dê ouvidos aos meus amigos e faça por escrever um livro e o publique. Os textos e fotografias deste blog são da minha autoria, salvo aqueles que estão assinalados em contrário.

O Professor e o Gato



Subidos os 6 lanços de 17 escadas em caracol, dobra-se para tirar os sapatos, arruma-os e abre a porta de casa. Elf, o gato, vem roçar-se-lhe nas pernas, para logo a seguir voltar para à poltrona onde preguiça o dia inteiro. "Estou a ficar velho"-pensa, enquanto põe água a aquecer para um chá. Apesar de o Verão estar à porta, o dia estava fresco e chovia desde a noite anterior. Com um fim de semana de 4 dias pela frente, Crist não sabia muito bem o que fazer. No liceu onde dava aulas de grego, alunos e professores falavam dos passeios que tinham programado e que nem a previsão de baixas temperaturas faziam alterar. Crist não tinha feito planos, excepto para essa noite. Toda a sua vida fora um cumprir rigoroso de agenda e horários, mas agora que tinha perdido a Mãe, algo tinha mudado.

Aquecido pelo chá, despido de quase toda a roupa, pega num dos seus charutos cubanos e num livro com mais de 100 anos, de folhas amarelas e com o cheiro que só os livros antigos conseguem ter. Folheia, mas volta a poisa-lo. Um charuto exige que todos os sentidos se concentrem nele. Só permite que a música continue, lenta, doce, estonteante, como o fumo que vai enchendo a sala rodeada de prateleiras cheias de livros e recordações de viagens a Cuba, Egipto, Grécia, Índia e Moçambique.

O telefone toca e vem acorda-lo das recordações do tempo em que era o menino prodígio e a sua irreverência era o skate que um dia lhe deixou na testa uma cicatriz em forma de 7. Era Anthony, a desmarcar o que tinham combinado: "Conheci uma loira de cabelos muito curtos. Fantástica!!! Depois conto como correu." E foi tudo, desligou.

Olha para a figura da Senhora de Fátima, no Altar que tinha dedicado à mãe e onde também havia um terço, uma Bíblia, uma vela e vários postais a dar as condolências e encolhe os ombros, com um sorriso desanimado. Um cancro levou-lhe a mãe, um italiano com manias de manequim levou-lhe a namorada, e agora... uma loira, leva-lhe o amigo, deixando-o com mesa reservada no restaurante e os bilhetes para o concerto Jazz.

1 comentário:

Gostaste do que leste?
Nem por isso?

Deixa o teu comentário :D