"Eu bem que
tento, mas parece que ultimamente é só correria e por mais que eu queira parar,
algo me continua a fazer correr. Tenho pressa em tudo, mesmo nos momentos em
que decido parar. Olho o relógio para ver se o tempo também ficou a
acompanhar-me ou se continuou sem mim, na marcha constante que trás dias e
noites consecutivas. Tic-tac, tic-tac e o som lembra-me que tenho que me
apressar, mesmo eu sabendo que não tenho nem preciso de ir a lado algum!
Tic-tac, tic-tac... algo que faz acelerar e me deixa sobressaltada. Acho que
preciso de férias... de ficar longe do barulho constante da cidade, do
transito, do nervoso miudinho dos transeuntes, das portas que batem com força
no apartamento por baixo do meu.
Esforço-me por
recordar quais as coisas que defini como objectivos, mas a memória está a
perder-se e tenho recaídas constantes.
Talvez nunca
venha a acontecer nada ao avião que perdemos... talvez fosse suposto ficarmos
em terra para o ver voar e lhe acenarmos um adeus. Talvez seja suposto aprender
a ter asas, para não mais voltar a correr o risco de ficar em terra...
Incertezas... são
as incertezas que me matam! E eu tenho pressa! Tenho pressa de as tornar
claras, de as desfazer, de as desdobrar e entender...
Tenho pressa e
hoje deixo-me ficar na pressa e deixo-me levar pela vida. Estou cansada, fecho
os olhos e sonho. Sonho que o sonho que sonhava não era um sonho. Sonho com
dias claros, azuis e verdes e violeta. Consigo cheirar as magnólias... e sentir
os teus dedos a fazer anéis com a ponta dos meus cabelos"