Sou...

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Zürich, Zürich, Switzerland
Irrequieta. Curiosa. Criativa. Apaixonada. Versátil. Nasci quando as estrelas se juntaram para me ditarem no destino a Arte. Deveria estar frio... mas eu não me lembro. Escrevo desde que aprendi a fazê-lo. Umas vezes para me divertir, outras por desafio a mim mesma, outras porque as mãos me suam, implorando que o faça. Talvez um dia dê ouvidos aos meus amigos e faça por escrever um livro e o publique. Os textos e fotografias deste blog são da minha autoria, salvo aqueles que estão assinalados em contrário.

Geminídeas



No dia em que deixei de sentir nojo dos homens que por vezes passavam pela minha cama, passei a sentir pena. Pena deles... e pena de mim. Saber que eram presas fáceis, fazia-me olhá-los, enquanto dormiam.Por vezes abandonava-os ali, num sono cansado de desejos saciados. Vestia-me, prendia o cabelo e saía sem deixar um último beijo ou um bilhete. Mas por uma vez, houve uns braços que me prenderam, ternos, meigos, quentes... E houve uma voz que me pediu para ficar até ser manhã. Foi uma noite fria de Dezembro, depois de uma festa em casa da Sophie. Fomos apresentados e colocaram-nos estrategicamente de frente um para o outro na mesa de jantar. Não desistem de tentar arranjar-me gajos decentes para ver se assento arraial em algum... Ele falava de Arte. Falava de pintores e escultores e nomes que eu nem sempre conhecia. E falava de cinema antigo e filmes a preto e branco... Lembro-me de ter sentido o coração saltar quando falou n’O Carteiro de Pablo Neruda. O tema voltou a mudar e falou-se de poesia... Sentia-me num remoinho que me embriagava os sentidos e deixei de conseguir perceber se isso acontecia por causa da voz melódica e ritmada ou se era pelas palavras que ele escolhia.

Ergui um pouco o copo para que me servisse do vinho italiano que acompanhava todos os outros sabores mediterrânicos que estavam na mesa.

A noite avança e a música ainda se faz ouvir. Há risos, boa disposição e aquele ambiente quente que Sophie consegue trazer sempre para as suas festas. Apesar de ser cedo, despeço-me dela, pedindo desculpas pelo cansaço que me força a regressar a casa.

“Tu parts dejá?”- pergunta Noah no momento em que abro a porta.
Oui... respondo-lhe com um sorriso

“Attend” E deita a mão ao casaco, acena um adeus aos restantes convidados e sorri-me de volta “Nous pouvont aller”

Solto uma gargalhada. “Nós podemos ir...” Repito divertida. Atravessamos o jardim e logo alcançamos o portão. Acendo um cigarro e encosto-me ao muro, a olhar o outro lado da rua. O fumo sobe e desfaz-se no ar.

“Desculpa... Queres? Pergunto entendendo-lhe o maço. Ele aceita e fumamos em silêncio.

Depois atravesso a estrada a faço abrir o pequeno portão em ferro. “Pensei que a viagem para te acompanhar a casa seria maior...”


“Mudei há duas semanas, Fico mais perto do trabalho. Obrigada pela companhia”- digo-lhe.

“Sei que estás cansada mas... Quero mostrar-te algo que tenho a certeza que vais gostar. Já não temos muito tempo. Vens comigo?”

Aceno positivamente sem pensar ou fazer perguntas. Ele dá-me a mão, morna, macia, grande e conduz-me até ao carro onde me abre a porta para entrar.

Entra também e diz a sorrir: “Gémeos”

Percebi naquele instante que falava do céu bem acima de nós e da chuva de estrelas que ocorria na posição daquela constelação.




O silêncio em que eu contemplava o céu foi quebrado: “Acho que gostas de estrelas.”

Suspiro. - “A minha gata chama-se Spica... Onde vamos?”

"Estamos a chegar."

Logo acima de Orion, estrelas cadentes pareciam jorrar como que de uma fonte. Era o dia de maior precipitação e por sorte, o céu estava limpo. Conduziu-me pelas escadas até ao jardim de Inverno, onde tinha o telescópio e um recanto confortável, que convidava a noites a observar o espaço.


“Vou preparar algo quente para nós. Fica à vontade”


Regressou com chá de maçã e canela. O cheiro perfumou o ar e quebrou a pouca distância que ainda havia entre nós. Recostados nas almofadas aveludadas e aquecidos debaixo de uma manta leve e macia, aconchega-me num quase abraço que encosta as minhas costas ao peito dele.

Uma, duas, três... e elas vão caindo a intervalos irregulares.

“Conta-se que Castor e Pólux, filhos de Zeus, além de serem irmãos eram muito amigos. Destemidos e aventureiros um dia decidiram ir para o Mar, para atacarem os piratas que assaltavam os marinheiros honestos. Numa das lutas Castor foi ferido mortalmente, o que deixou Pólux, imortal, numa tristeza extrema e o levou a pedir a Zeus que lhe permitisse ficar no mundo dos mortos com Castor, para sempre. O pedido foi aceite e Zeus colocou-os no céu, para que o exemplo da sua amizade fosse recordado na Terra” “Gosto destas lendas que falam de Deuses com sentimentos humanos”

Sigo o impulso e volto-me para ele. Beijo-o no canto da boca e ele segura-me a cabeça entre as mãos, terno e encosta os lábios dele aos meus.


“Obrigada por me teres trazido aqui Noah”



Volto a apoiar-me contra o peito dele, a noite avança e deixo que o cansaço me feche os olhos.
Há um calor que me embala, aconchegante e calmo.

Quando acordo, ainda noite, ele dorme sereno ao meu lado. Gémeos mudou de posição e já não se avista dali. Devem ser 4 e meia da manhã. Tento mexer-me o mais devagar possível para não o acordar. E no momento em que começo a levantar-me, ele puxa-me para ele, abraça-me e sussurra: “Fica! Tomamos o pequeno almoço e depois levo-te a casa.”



“Bolas!! Tenho que ir embora,” penso

1 comentário:

  1. Adoro os teus textos, que frequentemente nos trazem um fim inesperado. :)
    Não deixes de escrever.
    XI

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