Abri os olhos devagar, a lutar contra a luz que entrava pela janela. "Um dia fresco de Primavera"- penso. Daqueles que renovam energias e nos permitem usar blusas leves com os nossos blasers preferidos. É Sábado, e não tenho pressa. Poderia até optar por ficar a deprimir um dia inteiro, na cama, enrolada aos lençóis limpos e brancos que ainda guardam o cheiro de roupa lavada há dois dias. A preguiça arranca-me bocejos. E instintivamente vou até à cozinha, preparo o café e da varanda, olho a rua lá fora, enquanto o bebo.
Nos últimos dias a minha pele ganhou cor. Perco-me a imaginar se agora, encostada à tua, a diferença de tom das duas, seria menos evidente. Suspiro...

As rosas floridas no cantinho composto com velas, lembram-me os sorrisos de quando me pediste para escolher as plantas para a tua casa. Planos interrompidos e vidas desencontradas pela teimosia que de quem não quer fazer concessões. Apesar de tudo, reconheço que a maior parte das vezes, de uma forma peculiar, realizaste os pedidos que te fiz. São tantas as memórias que construí ao teu lado, que qualquer lugar guarda um pouco de ti. Estás em todo o lado...
Preparo-me para sair. O plano é tentar descobrir coisas novas nos lugares de sempre. Entrar pela primeira vez no barco que navega o rio, fingir-me turista na minha cidade e meter conversa com os residentes, só para os ouvir falar da história das catedrais, ir a um museu com uma exposição que nunca ouvi falar, subir ao observatório no final do dia.
Sei que não sou boa a seguir planos, faço-os só para não me sentir perdida e sem rumo, quando na agenda não está nada escrito. Talvez te lembres como me deixava irritada e ansiosa não saber o que havia para fazer... Ou talvez não.
E hoje não me ocorre mais nada para te dizer."
Ocenana Bernardez, As Cartas que Te Escrevo
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