Sou...

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Zürich, Zürich, Switzerland
Irrequieta. Curiosa. Criativa. Apaixonada. Versátil. Nasci quando as estrelas se juntaram para me ditarem no destino a Arte. Deveria estar frio... mas eu não me lembro. Escrevo desde que aprendi a fazê-lo. Umas vezes para me divertir, outras por desafio a mim mesma, outras porque as mãos me suam, implorando que o faça. Talvez um dia dê ouvidos aos meus amigos e faça por escrever um livro e o publique. Os textos e fotografias deste blog são da minha autoria, salvo aqueles que estão assinalados em contrário.

Memórias

Ainda me assalta a recordação do que se passou há sensívelmente um ano atrás.


Uma noite fresca de finais de Setembro. O Lago. Galhofa. Disparates. Amigos...

Ela aproximou-se a cambalear e deixou-se cair na relva a uns 50 metros de nós. Ninguém riu e eu aproximei-me. Esperava o cheiro que me provoca náuseas. Mas ele não existia... Havia sim uma mulher que carregava a tristeza de um mundo inteiro em cima. Uma tristeza tão pesada, que não lhe permitia segurança nos seus passos.

Fiquei a conversar com ela, de mãos dadas. Tinha as mãos frias. Mas eram macias e grandes e carinhosas. Uma mulher bem vestida, mãe, esposa, amigos ricos, uma posição social invejada por muitos. Tinha vindo para a Suiça com o marido, porque ele tinha um cargo elevado num banco, e isso fazia com que eles tivessem que mudar de país com alguma frequência.

Quem não quer uma vida a viajar? Quem não quer compras, carros, joias, jantares?

Ela tinha tudo o que o dinheiro pode proporciar e eu vi muito poucas pessoas que se sentissem assim tão infelizes...

Queria criar os filhos sem ter que andar sempre a mudar de casa. Queria estabilidade. Queria um marido presente, com menos jantares de negócios e menos fins de semana a trabalhar. Ela queria um abraço e ser amada e amar...
Muitas vezes somos iludidos pela ideia de que ter muito dinheiro nos trás mais do que o que temos. Por vezes tornamo-nos é escravos. Escravos do trabalho, do metal, do tempo, de nós mesmos e da nossa febre consumista. Esquecemo-nos fácilmente de viver, quando o papel se torna o centro das nossas vidas. Tornamo-nos menos produtivos, menos criativos, menos sorridentes, mais sombrios, mais insatisfeitos e infelizes.

Não me voltei a cruzar com ela, depois de me ter agradecido os minutos que ficámos na conversa e de cada uma de nós ter continuado na sua vida. Eu voltei para a beira dos meus amigos, mas depois daquela noite, muita coisa mudou na minha forma de pensar. Foi uma noite que me marcou e marca. E ainda hoje me pergunto o que será feito da mulher de mãos frias e macias, que carregava a tristeza com ela...

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