8 e meia da manhã e as portas do comboio continuam abertas à espera dos passageiros que correm e chegam segundos antes do apito mandar seguir viagem. Estou no meio deles, vejo-os a passar e a fazerem contorcionismos para me ultrapassarem e não irem de encontro a uma coluna. Não corro porque continuo dividida entra a vontade de ir ter contigo e a teimosia de não dar o braço a torcer. Sei de cor as linhas e as paisagens… Sei de cor os minutos que me deixam cada vez mais perto de ti…
Não vou quebrar!
As cores iluminadas pelo pôr do sol são mais nítidas...
O ar quando inspirado conscientemente tem cheiro...
As distrações custam caro, mas eu...
Não vou quebrar!
Vou dizer-te sempre o oposto do que sinto
E não vou quebrar...
Mas acabo por entrar. Por coincidência(ou não), fui reconhecida e esperaram por mim. Caminhei até à carruagem onde não é permitido conversar ou fazer barulho, apenas porque queria ficar em silêncio. Uma parte de mim não queria entrar ali. As pernas tinham vida própria e tinham-me conduzido até ali. Queria levantar-me e puxar o travão de emergência, correr de volta para o local que eu sabia seguro, mas o meu corpo subitamente tornou-se pesado e eu fui incapaz de me mexer. Como se ele me forçasse a encarar de uma vez por todas os medos e as palavras que não te quero dizer…
Adormeci. Tive pesadelos e quando acordei tinha a língua seca e áspera. Precisava de água. Melhor, precisava de uma bebida qualquer com um forte teor alcoolico pra ver se me tornava menos sóbria, menos controlada, menos controladora dos meus passos e acções. E porra, naquele momento até me sentia capaz de desafiar as leis e fumar um cigarro no espaço mais cheio de proibições do comboio. Não tinha nada a perder. Afinal se me levassem presa por uma noite, seria um alívio. Não teria que obedecer, contrariada, à vontade do corpo e procurar-te.
O dia começou mal, pensei ! Afinal tinha-me esquecido dos cigarros em casa, quando troquei a carteira e a bolsinha com meia dúzia de preservativos, do saco à tira-colo para a mochila… Bem, mais uma vez, involuntariamente, preservo a saúde dos pulmões e das artérias…
Já parámos algumas vezes, noutras cidades, entre a minha e a tua. O lago lá ao fundo saúda-me com um sorriso cínico. Tou farta das viagens, cansada de me ter perdido algures no cruzamento do acaso…
Chego ao destino.
Vejo-te à minha espera, ansioso. Desta vez trazes uma rosa na mão. Tu sabes que eu gosto de rosas… Continuo sentada e tu pareces ter um ar perdido e confuso. O telemóvel vibra. Pego na mochila, levanto-me… e mudo para o banco do lado, virada no sentido oposto ao que fiz a viagem. Dentro de 5 minutos o comboio inicia a viagem de regresso.
Não vou quebrar !
Olho o relógio, oiço o apito… não te procuro mas sei-te do lado de fora, no meio da multidão. No telemóvel as chamadas compulsivas que fazes vão subindo de número. Eu oiço a vibração, não vou atender…
A gravação dá as boas vindas aos passageiros. 3 línguas diferentes, para dizer a mesma coisa… É o que dá viver num país onde as línguas oficiais são 4…
Encosto-me, descontraio, sorrio… e adormeço
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